quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Merkel e o multiculturalismo

Do site do Figaro, dia 17/10:

Angela Merkel admet l'échec du multiculturalisme allemand

Ce modèle a « totalement échoué», a dit la chancelière allemande. Alors que le sentiment de défiance vis-à-vis des musulmans croît dans le pays, les immigrants sont priés de mieux maîtriser l'allemand.


Angela Merkel durcit un peu plus son discours pour faire entendre sa voixdans le débat sur l'immigration qui agite son pays. Ce week-end, la chancelière a simplement et radicalement enterré le modèle d'une Allemagne multiculturelle, où pourraient cohabiter harmonieusement différentes cultures. Cette approche «Multikulti» - «nous vivons côte à côte et nous nous en réjouissons» - a «échoué, totalement échoué», a-t-elle lancé devant le congrès des Jeunesses de sa formation conservatrice.

Pour Angela Merkel, les immigrants doivent s'intégrer et adopter la culture et les valeurs allemandes, comme elle l'avait déjà souhaité à plusieurs reprises ces dernières semaines. «Nous nous sentons liés aux valeurs chrétiennes. Celui qui n'accepte pas cela n'a pas sa place ici», a-t-elle dit. «Subventionner les immigrants» ne suffit pas, l'Allemagne est en droit «d'avoir des exigences» envers eux, a poursuivi la chancelière allemande, par exemple qu'ils maîtrisent l'allemand et qu'il n'y ait plus de mariages forcés.

Le débat sur la place des étrangers en Allemagne a pris une nouvelle tournure depuis la parution, fin août, du livre choc de Thilo Sarrazin. Dans cet essai, L'Allemagne se détruit, ce membre du Parti social-démocrate, qui siégeait au directoire de la banque centrale allemande, affirme que les musulmans minent la société allemande et abaissent l'intelligence moyenne de la population. Son livre a suscité un tollé, mais il figure toujours dans les meilleures ventes et les sondages montrent qu'une majorité d'Allemands approuvent son argumentation.

Un grand écart avant les élections

La position d'Angela Merkel reste cependant plus nuancée. Alors que certains conservateurs aimeraient refermer les vannes, la chancelière allemande juge que l'immigration est nécessaire étant donnée la pénurie de main d'œuvre qualifiée (400.000 personnes selon la chambre de commerce et d'industrie). Et elle estime aussi que «l'islam fait partie de l'Allemagne», reprenant une formule récente du président Christian Wulff (CDU), qui a indigné une partie de son camp chrétien-démocrate (CDU-CSU).

Afin d'encourager cette intégration, le gouvernement a dernièrement décidé de financer la formation complète des imams dans les universités allemandes. La plupart viennent aujourd'hui de Turquie, avec une maigre connaissance de l'allemand. Le président turc Abdullah Gül a lui-même exhorté ses compatriotes, qui forment la plus forte communauté étrangère d'Allemagne, à apprendre à «parler couramment et sans accent» la langue allemande.

Avec grand écart, Angela Merkel tente de réunir les franges divergentes de son parti et de remobiliser les électeurs, alors que la coalition conservatrice-libérale est en chute libre dans les sondages à l'approche de six scrutins régionaux en 2011. Horst Seehofer, chef de la CSU bavaroise qui courtise les voix très à droite, avait proclamé la mort du Multikulti dès vendredi. L'Allemagne n'a «plus besoin d'immigrants de pays aux cultures différentes comme les Turcs et les Arabes» pour qui il est «plus difficile» de s'intégrer, avait-il déjà assuré.

(avec agences)


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

As virtudes enlouquecidas

«O mundo moderno não é mau; sob determinados aspectos, o mundo moderno é até excessivamente bom. Ele está repleto das mais selvagens e desperdiçadas virtudes. Quando um sistema religioso sofre qualquer abalo (como aconteceu com o Cristianismo por ocasião da Reforma), não são apenas os vícios que ficam em liberdade. Os vícios ficam, sem dúvida, à solta, vagueiam livremente e causam imensos danos. Mas as virtudes também andam à solta, vagueiam de modo mais selvagem e causam danos ainda maiores. O mundo moderno está repleto de antigas virtudes cristãs que enlouqueceram. Essas virtudes enlouqueceram porque ficaram isoladas umas das outras e vagueiam por aí sozinhas. Alguns cientistas se preocupam apenas com a verdade, mas a sua verdade é desumana. Da mesma forma, certos humanitários se preocupam unicamente com a compaixão e a sua compaixão (custa-me dizê-lo) é, muitas vezes, falsa.»


Chesterton, Ortodoxia


domingo, 10 de outubro de 2010

The Living Room Candidate

No sensacional The Living Room Candidate, você encontrará todos os comerciais eleitorais das campanhas presidenciais americanas, de 1952 até 2008. Imperdível.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pequena divagação sobre as críticas ao petismo

Não reivindico para o que escrevo a seguir qualquer mérito por originalidade ou perspicácia. É apenas um pensamento que me ocorre e que, em essência, é o seguinte: a maior parte das críticas tucanas ao petismo é frágil e tem como pressuposto uma compreensão larga de democracia. Senão, vejamos.

Suponho que um bom exemplar de manifestação tucana crítica ao petismo seja o texto de Sérgio Fausto, publicado na Folha de S. Paulo em 26-09-10 e intitulado «A outra face do lulo-petismo». Basicamente, trata-se de uma crítica a um artigo de André Singer, «A História e seus ardis». Segundo Fausto, o artigo de Singer ignora as mudanças introduzidas pelo lulo-petismo nas relações entre Estado, governo e sociedade, mudanças que podem ser duradouras e, diz ele, «são preocupantes para quem acredita que a democracia não se limita a eleições».

A crítica de Fausto não é muito clara, mas parece se dirigir à cooptação de setores da sociedade por parte do governo, bem como de setores do governo por parte do PT. A seguir, transcrevo duas passagens bastante expressivas:

«Na combinação do Bolsa Família com o Bolsa BNDES, Singer enxerga o ressurgimento da 'aliança entre a burguesia nacional e o povo, relíquia de tempos passados que ninguém mais achava que pudesse funcionar'. Nenhuma palavra sobre o que pode vir a significar para a democracia brasileira a formação de duas clientelas governamentais, uma no andar de cima, com recursos para financiar campanhas, outra no andar de baixo, com votos para eleger.»

E a segunda:

«A crítica ao modo pelo qual este [o lulo-petismo] se constitui e opera a partir do Estado não é 'moralismo udenista' tardio, como Singer sugere. É, isto, sim, um dever de consciência de quem acredita que a democracia se enfraquece e pode periclitar onde o chefe do Estado se arvora a protetor paternal dos pobres, onde as fronteiras entre partido, governo e Estado se confundem, onde a cooptação estatal prevalece sobre a representação mais autônoma dos interesses da sociedade.»

Notem que, embora a segunda passagem seja interessante, ela não nos dá, a rigor, nada de palpável, isto é, nenhuma evidência de que as fronteiras entre partido, governo e Estado estejam se confundindo. Mesmo a primeira passagem, que faz referência à criação de clientelas por parte do governo, uma no andar de cima e outra no andar de baixo, não denuncia, a rigor, nada que pareça muito condenável.

Não tenho qualquer intenção de desqualificar o artigo de Fausto, que acho interessante e bem escrito. Ademais, sendo um artigo de jornal, não pode ter a pretensão de oferecer ao leitor muitas evidências empíricas para fundamentar sua tese. A Folha de S. Paulo não é a Brazilian Political Science Review. Mesmo assim, arriscaria afirmar que críticas como esta feita por Fausto têm poucas evidências empíricas sistemáticas à sua disposição.

De um ponto de vista institucionalista, não há evidências a provar que o governo lulo-petista seja diferente do governo tucano a que sucedeu. No limite, a crítica tucana me lembra os choramingos de alguém que, numa competição qualquer, é derrotado por um adversário muito melhor preparado. É como se essas críticas dissessem: «ah, não vale, eles dominaram o governo, o Estado, ganharam as eleições duas vezes e vão ganhá-las de novo! Eles se prepararam mais do que nós!» Ao que, parece-me, um petista poderia retrucar: «sim, mas... E daí?»

A crítica de Fausto deixa implícita uma outra, a saber, a crítica ao aparelhamento do Estado feito pelo PT. Talvez essa crítica possa ser bem fundamentada. Gostaria de dar uma olhada em A Elite Dirigente do Governo Lula, de Maria Celina D'Araújo, estudo que serviu para embasar algumas matérias da Veja sobre o aparelhamento do Estado durante o governo Lula. Porém, pelo que pude depreender de uma leitura rápida da orelha do referido livro, o estudo se limita ao próprio governo Lula, de modo que não podemos ter qualquer base de comparação.

Além de frágeis - ou talvez por isso mesmo -, as críticas tucanas ao lulo-petismo pressupõem uma definição ampla do termo democracia. Na segunda metade do século XX, a transição de muitos regimes do autoritarismo para a democracia - aquilo que Huntington chamou de «the third wave» - contribuiu para um enorme debate sobre o que é democracia e como defini-la. Hoje, o debate se deslocou da transição para uma discussão sobre qualidade da democracia. A julgar pelo pouco que conheço sobre essa literatura, ela não oferece indicadores ou condições a partir das quais se possa afirmar que o governo petista é uma ameaça à democracia. Seria preciso defini-la de modo bem mais amplo do que o fazemos.

Sendo isto apenas uma breve divagação, sinto-me eximido da responsabilidade de concluir o que quer que seja. Se tivesse, porém, que fazê-lo, diria que a intelligentsia tucana tem duas opções. Uma é apresentar evidências de que o modus operandi de um governo petista é de fato nocivo para a democracia brasileira. A outra seria encampar críticas ao petismo que a esquerda brasileira considera como sendo de «extrema direita»: denunciar a relação entre o PT e o Foro de São Paulo, criticar as posições petistas contrárias ao cristianismo, etc.



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Novo blogue

Muito prezados leitores,

Em 20 de janeiro deste ano, publiquei o último post do agora finado A Messalina Gaga. Na ocasião, decidi não dar mais seqüência àquele blogue moribundo, em parte por preguiça, em parte por achar que não havia nada a escrever. Há algumas semanas, porém, voltei a sentir o desejo irresistível de ter um blogue para escrever o que quisesse e ser pernóstico à vontade. É verdade que não foi um desejo tão irresistível assim. Resisti a ele por semanas sem grande esforço. De fato, talvez eu continuasse a resistir durante muito mais tempo, não fosse o tédio, este sim, o grande responsável pela minha decisão de voltar a ter um blogue.

Então, menos por um desejo irresistível e mais por pura falta do que fazer, decidi criar um novo blogue. Permitam-me, leitores, uma confidência. De início, quis criar um blogue novo, em tudo diferente do A Messalina Gaga. Quis criá-lo no Wordpress, com um template novo, e usar todos os recursos que eu teria direito. Eu queria um blogue com um projeto gráfico impecável e com um conteúdo muito superior ao do blogue pregresso.

O resultado, como vocês podem imaginar, foi um grande fracasso. Meu projeto exigia conhecimentos mínimos de programação para alterar os themes do Wordpress. Sem falar do, bem, conteúdo muito superior, o que exigiria uma inteligência superior à que Deus quis me dar. Enfim, quis um blogue novo (para um novo homem?), um projeto revolucionário, algo como nunca se viu antes. E o que logrei obter? Um blogue essencialmente igual ao anterior, com um conteúdo que será tão rasteiro e presunçoso como o foi o d'A Messalina Gaga. A única coisa que há de novo, e, fato pouco notável, não se deveu a mim, foi o desenho principal que ilustra e dá nome ao blogue. Devo ele à gentileza de um amigo, Daniel "Marga" Sabino.

Pois então, é isso. Queria algo muito melhor e continuei no mesmo lugar. Não posso terminar sem notar a ironia que há entre a impossibilidade de dar um passo muito maior do que as pernas e o nome do próprio blogue, O Saquarema. Eu não faria juz a ele se não fosse capaz de aceitar a minha condição.

Aguardem novos posts para a semana que vem.

Abraços,
F.L.